Zagueiro Bravo
Decisão de campeonato no interior e o time da casa precisava vencer para conquistar o título. Precavido e temendo alguma surpresa, o presidente do clube, coronel Neca Pereira, famoso cartola da região, escolheu a dedo o juiz e os bandeirinhas. Para os visitantes, reservou o vestiário ao lado do curral da fazenda, onde ficava o campo.
Sabendo que o adversário usaria sua tradicional camisa vermelha, mandou prender em local bem próximo à passagem dos jogadores, um feroz touro chamado Bravo, o terror das touradas da roça.
Logo ao pisar o gramado, os visitantes receberam as boas vindas do animal, que avançava ferozmente contra a tela de proteção, tentando chifrar aquelas camisas encarnadas.
E assim continuaria durante toda a partida. Sempre que alguém de vermelho se aproximasse da lateral, lá vinha a besta fera, bufando e chifrando o alambrado que separava o estábulo das quatro linhas.
Intimidado, o adversário parecia presa fácil. Aos 15 minutos, já perdia por 1 x 0. O jogo porém foi se arrastando, sem outros gols. Aos 44 minutos do segundo tempo, um cochilo do time da casa e, num contra-ataque, o ponta inimigo driblou dois e chutou: gol!!! Empatada a partida. Resultado que dava o título aos visitantes.
O arbitro, pressionado pelo poderoso cartola, ainda deu 10 minutos de prorrogação, mas o gol não saía. Então, chega à beira do gramado e avisa:
– Coronel, tenho que acabar o jogo. Seu time está perdido e não fará gol nunca…
Atarantado, o coronel vira-se para o técnico e ordena:
– Esse título eu não perco… Vamos melar o jogo!
– Mas, melar como? Espanta-se o treinador…
E o coronel taxativo:
– SOLTA O BRAVO
Victor Kingma
Do livro Dali o Joca Não Perde