Segura peão!
Causos da bola
Invictos na competição e com campanhas muito parelhas, Igrejinha e Berro Alto, os dois principais times daquelas vizinhas cidades, chegaram à decisão do título em duas partidas , de ida e volta.
No primeiro jogo, em seu estádio, o “Berrantão”, o Berro Alto fez prevalecer o mando de campo e acabou vencendo por 1 x 0.
Assim, num clima de grande expectativa, as duas cidades pararam naquele domingo, dia da segunda e decisiva partida do tira-teima. As inflamadas torcidas lotaram o pequeno estádio do Igrejinha F.C, palco da grande decisão. O time local, agora jogando em casa, prometia a desforra.
Quando o juiz apita e a bola rola, a famosa charanga do Padre Neto, chefe da torcida do time local, faz o maior barulho para animar a sua equipe, que logo parte para o ataque.
A torcida do Berro Alto não deixa por menos. Formada na sua maioria por boiadeiros, pois a pecuária era a principal atividade de sua cidade, e comandada por “Zécauboy” famoso peão e vaqueiro do lugar, ensurdece o estádio com seus possantes berrantes, sempre que os adversários pegavam na bola.
A partida, muito truncada, vai se arrastando. Embora o Igrejinha, estivesse sempre melhor, seus atacantes não conseguem aproveitar as poucas chances de gol que aparecem, talvez, desconcentrados pelo som agudo e infernal dos instrumentos feitos de chifres de bois. O Berro Alto vai segurando o empate em 0 x 0 , o que lhe daria o título.
O jogo já estava quase no fim, quando o veloz ponteiro Carreirinha, do Igrejinha, recebe uma bola na direita. O corisco avante local passa como uma flecha por dois marcadores e, ignorando o “berrantaço”, parte decisivo em direção à meta adversária. O último zagueiro vem na cobertura e também é fintado.
A charanga do Padre Neto se anima e os torcedores do Igrejinha se levantam. Os boiadeiros ficam apreensivos…
De repente, Carreirinha, que já se preparava para marcar o gol da vitória e levar a decisão para os pênaltis, se depara com um inesperado marcador: “Zécauboy”, a essa altura já à beira do gramado, joga o berrante pro alto, pega o seu inseparável laço na cintura e, da lateral do campo, com a precisão usada para prender uma novilha desgarrada, consegue laçar o veloz pontinha, na entrada da área.
Enquanto Carreirinha, desesperado, tenta se livrar das amarras, a torcida do Berro Alto grita eufórica:
Seguuura peão!
Ágil, o goleiro sai do gol e faz a defesa.
Após muita confusão e protestos, “Zécauboy” sai preso do estádio e a partida é reiniciada.
Nos minutos restantes, os visitantes seguram o empate e se sagram campeões. A festa pela comemoração do título entra pela madrugada. Nunca se ouviu tantos berrantes tocando por aquelas bandas.
O providencial laço do “Zécauboy” até hoje está guardado como relíquia, na sala de troféus do Berro Alto, ao lado da taça de campeão. O herói da conquista, o bravo peão boiadeiro, entretanto, nunca mais pode frequentar a Igrejinha local, como fazia regularmente, excomungado que foi pelo vigário torcedor.