A coleção de figurinhas
(Trechos do livro A Oficina do Tião Sapateiro)
Nossa família se adaptou muito bem a Juiz de Fora e, apesar das dificuldades, íamos levando a vida. Às vezes batia uma grande saudade de Mantiqueira e de brincadeiras desconhecidas entre os novos amigos da grande cidade, como correr pelos morros montados em pedaços de cana, como se fossem cavalos, onde barbantes amarrados na extremidade faziam a vez das rédeas. Tinha saudade de brincar com os carros de bois, feitos com sabugos de milho e casca de abóbora. Saudade de nadar no Rio Pinho e de andar de carona nos bondes puxados a burros até a fábrica de laticínios. Queria de novo participar das caçadas de preás, que chamávamos de piriá, organizadas pelo meu irmão Eduardo.
Lembrava-me da coleção de figurinhas dos campeões do mundo de 1958, que saíam no maço de cigarros Olímpicos. No verso tinha a foto e a ficha completa dos nossos craques. Gostávamos de colecionar as figurinhas e muitas vezes andávamos quilômetros para conseguir alguma que ainda não tínhamos. Eu, meu irmão José e nossos amigos inseparáveis, Jorge e José Olinto. Éramos apaixonados por futebol e até hoje sei de cor o nome completo de todos aqueles heróis.
As figurinhas de “Gilmar” dos Santos Neves, Hideraldo Luiz “Belini” e José Altafine, o Mazolla, eram das mais difíceis de serem encontradas. Foi através dessas figurinhas que pela primeira vez vi o rosto de Pelé, Edson Arantes do Nascimento, ainda menino, com 17 anos e de Garrincha, Manoel Francisco dos Santos; ambos despontando para o estrelato. No nosso velho rádio Zenith, vibrava com a marchinha:
” A taça do mundo é nossa,
Com brasileiro não há quem possa
Êh eta! Esquadrão de ouro,
É bom de samba, é bom no couro.”
Eu que jamais fumei, quando arrumava algum dinheiro, corria até a venda do Senhor Agenor, “A Brasileira”, que vendia desde tecidos importados a chapéus Panamá, para comprar um maço de Olímpicos, só pela figurinha.
Victor Kingma