Gabiroba, o mentiroso
Gabiroba foi o maior mentiroso que já apareceu lá pelas bandas da fazenda Catauá, onde nasci.
Ele era realmente o maior contador de lorotas das redondezas Quando aparecia, todos logo diziam: – lá vem alguma por aí!
Como bom mentiroso ele também gostava de pescar e caçar, o que tornava as caçadas e pescarias as suas principais fontes de mentiras.
Gabiroba, entre uma pitada e outra no inseparável cigarro de palha, costumava contar que, certa vez, voltava de uma caçada, quando se deparou com um tatu gigante, quase do tamanho de um bezerro. O maior tatu já visto por ali.
Tabajara, o seu cavalo, assustado, empacou, e Faísca, o seu fiel cachorro e companheiro de caça, impressionado com o tamanho do bicho, fugiu. Mas ele não se assustou, mirou a cartucheira e atirou. Entretanto, muito nervoso não acertou o tiro direito, o que jamais tinha acontecido com ele. O tatu gigante, com uma das pernas ferida entrou em um buraco, num barranco próximo. Ele tentou puxá-lo pelo rabo, mas quanto mais força fazia para fora mais o tatu cavava buraco adentro.
Não queria perder a caça, mas precisava de alguma coisa para tirar o bicho da toca. Entretanto, se soltasse o rabo da presa ela cavava o restante do buraco e sumia. Então teve uma ideia: amarrou o cabresto do cavalo no rabo do tatu e saiu para buscar uma enxada.
Ao retornar com a ferramenta, um grande tumulto tinha se formado no lugar. O tatu tinha puxado meio corpo do cavalo pra dentro do buraco…
Outra de suas célebres mentiras: Gabiroba contava que numa de suas pescarias no Rio São Francisco, ao recolher a rede notou que junto com os quase cinquenta quilos de peixes (???) veio também uma lata de querosene, com um pequeno furo na tampa. Ela já devia estar na água ha mais de vinte anos, pois aquela marca do produto nem existia mais. Notou, então, que ela estava muito pesada, parecendo que tinha alguma coisa dentro. Aí, quando escorreu a água pelo furo levou um susto: a lata saiu pulando…
A surpresa maior, entretanto, veio quando pegou o facão e abriu a tampa da lata: lá dentro tinha um bagre enorme.
O peixe havia entrado pelo minúsculo buraco ainda alevino e como não conseguiu sair, foi criado dentro da lata.
Êta cabra mentiroso!!!
Victor Kingma
P.S: do livro O Esteio de Braúna.
Ilustração: quadro Caipira picando fumo de Almeida Junior