Campeão do Cangaço
Invicta há vários anos, a equipe formada pelos jagunços bons de bola (e de peixeira) do agreste pernambucano era o orgulho do seu velho e temido presidente cangaceiro, figura lendária e temida em todo o nordeste. Nenhum time conseguia (ou ousava) derrotá-la. Afinal, os métodos empregados nem sempre eram muito esportivos. Muitas vezes, a peixeira substituía a bola em caso de dificuldades em alguma partida, para intimidar adversários e arbitragem.
Já velho e sem enxergar direito, o patrono do time não ia mais aos jogos. Todo domingo à tarde, ficava na fazenda, esperando a rapaziada para mais um churrasco de comemoração. Terminada cada partida, o foguetório, no caminho de volta, indicava ao “chefe” sobre mais uma vitória. Esta era a rotina dominical. Já se tornara folclore em toda a região.
Mas, naquele domingo, entretanto, alguma coisa errada tinha acontecido. O silêncio dominava o povoado e ninguém ouvia os gritos de euforia e o barulho dos foguetes, no caminho de volta.
Cabisbaixos, os atletas e o técnico vão se aproximando da fazenda, tendo à frente o capitão Carranca, um misto de zagueiro e cangaceiro, atleta muito conhecido na região, não pela habilidade que tinha com a bola, mas pela voracidade que atingia a canela dos adversários.
Na sacada da fazenda, impaciente, o velho cangaceiro ansiava por uma explicação:
— E aí? O que aconteceu?
— Perdemos! Desabafa desolado o truculento zagueiro. Com aquele juiz não tinha jeito.
— E que juiz ousou nos desafiar? — Traga-o imediatamente até aqui!
— Melhor deixar pra lá, chefe!
— Quem é o juiz? Grita furibundo, já de pé sob a sacada.
— LAMPIÃO, chefe!
— O velho cartola cangaceiro coça o cavanhaque, tira o chapéu, e arremata:
— Pensando bem, “cabra macho” de verdade tem que saber a hora certa de perder…
— Vamos ao churrasco pessoal!
Do livro Dali o Joca Não Perde