Victor
Kingma
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Bem menos Carmo
Contratado mais uma vez para tentar tirar o Barreirão da crise e acabar com os focos de insatisfação e indisciplina no elenco, o folclórico e austero técnico Modesto do Carmo, conhecido pelo peculiar linguajar e por suas máximas, como: “Modesto eu posso até ser, mas Carmo não!”, ou “Zagueiro tem que jogar igual a pé de milho: plantado!”, foi logo espinafrando e desfilando suas pérolas, na apresentação:
- Cheguei pra tirar vocês do buraco! E quero ver todo mundo correndo. Tem jogador aqui igual a dono de sauna, ganhando a vida com o suor dos outros. Time tá mais perdido que cachorro quando cai do caminhão de mudança. Parece apostador azarado, não acerta nada, só perde. Vamos dar um jeito de arrumar a casa. Pra começar precisamos treinar como disco arranhado: repetir, repetir, repetir… Até enjoar.
- Goleiro, então, tem que treinar mais ainda. Ta parecendo bobo em balada, não pega nada. Beque no meu time não pode brincar. Tem que ser como macumbeiro eficiente: bom de despacho. E prossegue:
- Os laterais tão mais desprotegidos que careca na chuva. A partir de agora vamos adotar a tática do cheque especial: se avançou tem que cobrir. Meio de campo tem que pegar a bola e esticar. Tá parecendo cunhado problemático, todo enrolado. Já o ataque não tem que inventar. É a velha e boa tática do tatu com porco: cavar e fuçar o tempo todo. E tem mais:
- Não admito ninguém chiando com a reserva. Se chiar resolvesse alguma coisa sal de fruta não morria afogado. E quem não se enquadrar vai sobrar igual a jiló na janta.
E diante das gargalhadas de todo o elenco, o que já demonstrava novos ares no time da cidade de Barreira, o velho talismã encerra a preleção e vai se afastando. Nem tão Modesto, e bem menos Carmo.
Victor Kingma
Do livro dali o Joca Não Perde